sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Dois dias em companhia dos viciados em crack

Por Wagner Araujo


Existem dois tipos de miséria: a social e a cultural. A última é a pior!

O ser humano é por natureza atraído pelo que é fácil. Tudo que não exija esforço lhe será mais atraente.

Estive por dois dias acompanhando um grupo de viciados em crack estabelecido sob o pontilhão do metrô na estação de Afogados no Recife. Ali, pude ver quão o problema das drogas e indigência - os viciados moravam na rua - dificilmente será resolvido. A facilidade para se conseguir dinheiro, comida e a droga era grande. Com o dinheiro ganho na lavagem e ‘’guarda’’ dos carros estacionados naquela área, os ''programas sexuais'' feitos por garotas também viciadas na droga (elas são maioria nessa população) mais um contingente não mergulhado até o pescoço no crack - embora usuário frequente, que sempre visita aquela área para comprar o entorpecente: e aí se constituía outra via ao crack, quando os ''aviões'' (pessoas que pegam o dinheiro do interessado na droga indo até o traficante fazer a compra ganhando parte do negócio em dinheiro ou mesmo no produto), somando todos estes pontos, é possível manter a rotina de consumo da droga. Com tanta ''serventia'', os roubos ficam em terceiro plano. Um dos moradores do pontilhão, segundo ele, ex- estudante do curso de Direito, quando o abandonou no quarto período - Felipe, nome real, com 27 anos de idade, me disse: ‘’roubar, só se o vacilo da pessoa for muito grande...

...caso contrário, o risco não vale à pena!’’ A facilidade à droga, comida e bebida é grande: ’Eu trabalho com a cabeça e não com a emoção’’ finalizou o ex- estudante de direito, hoje viciado em crack e, morador de rua.

A população de viciados parece estar ganhando gente de ‘’destaque’’. O suposto ex-estudante de direito não era o único. Ali, conheci estudante de ciência da computação, caminhoneiro, professora, advogado formado e um médico; todos com o conhecimento acerca de tudo na ponta da língua; habilidades só desenvolvidas através de uma vida realmente vivida no passado. Hoje, são mortos vivos à espera da próxima pedra que, sem muito esforço, certamente não haveria por se demorar.

Nenhum comentário: